Sobre as cotas de TV e o triângulo amoroso

Ficamos sabendo que Corínthians e Flamengo receberão da Rede Globo mais de R$ 110 milhões cada um anualmente pelos direitos de transmissão de suas partidas. Abaixo deles, os demais chamados grandes do futebol brasileiro, membros do Clube dos 13, em grupos decrescentes de valor conforme a visibilidade e audiência de cada equipe. A Globo, que preferiu negociar individualmente com cada time e pular fora da concorrência com a Record e a RedeTV, deve ter seus motivos. E o lucro certamente é o maior deles. Até aí, nada de errado. Prefere desembolsar menos do que seria obrigado para vencer a concorrência, e ter na sua programação de TV aberta as equipes campeãs de audiência. 

Não me importo que os jogos do Avaí não sejam transmitidos na TV aberta durante o Brasileirão. Já me acostumei com isso.Assistir os jogos do Avaí no Pay Per View ou na Tv fechada são boas opções, e muitas vezes mais divertido, pois posso escolher um bar para assistir meu time em campo, o que dificilmente faria se pudesse ficar no sofá de casa. O que me preocupa é outro fator. Se a RedeTV venceu a concorrência, é sinal que a Globo não pretendia desembolsar um valor maior. Como pretende gastar menos, e está aumentando o valor individual das maiores equipes, obviamente pretende economizar de outra forma. Suspeito que a fonte dessa economia serão os clubes menores, caso do Avaí, que terão sua já escassa verba  reduzida. O valor pode até ser maior que o dos anos anteriores, mas proporcionalmente muito menor em relação às demais equipes. Li em algum lugar que o Avaí recebe pouco mais de R$ 6 milhões por ano pelos direitos da TV aberta. Se esse valor aumentar para, digamos R$ 10 milhões, sairíamos ganhando financeiramente, mas sairíamos muito enfraquecidos como clube. Um algumas situações, jogaríamos contra uma equipe que receberia 11 vezes mais apenas da Rede Globo. Se formos considerar os patrocinadores individuais de cada equipe, a diferença será muito maior.

Como bom defensor do capitalismo que sou, entendo o valor de mercado de cada equipe. É indiscutível que Flamengo e Corínthians são unanimidade e possuem enormes torcidas por todo o Brasil. Mas mesmo o capitalismo precisa ser e é regulado, para evitar o que chamamos de monopólios. Não estou afirmando que o Avaí merece receber uma quantia semelhante aos grandes, mas ao menos que a diferença existente hoje não seja cada vez mais ampliada. E a transmissão dia sim, outro também, dos jogos dessas 2 equipes tornará cada vez maior o fosso que as separa das demais. Em muitos lugares do Brasil a Rede Globo é a única capaz de ser sintonizada, logo a cada dia teremos mais corinthianos e flamenguistas. Com o aumento das torcidas, os clubes reivindicarão uma participação ainda maior no montante total das cotas de TV. É um círculo vicioso, que acabará jogando para escanteio as equipes menores. E o Campeonato Brasileiro se tornará menos competitivo, uma de suas principais características.

Aliás, este campeonato é disputado por 20 equipes que chegaram onde estão por méritos, e sem elas não existiria campeonato algum. Caso contrário, que seja abolido o campeonato e façam logo a final entre os 2 queridinhos da Globo.

Por último, uma questão: se Corínthians e Flamengo são o principal ganha-pão da emissora carioca, qual o nível de imparcialidade da Globo na transmissão das partidas entre estas e outras equipes? Todos conhecemos o seu poder junto aos telespectadores e à CBF. Imaginem uma disputa por um título ou para escapar do rebaixamento, por exemplo, entre Avaí e Flamengo. Vocês confiariam na arbitragem, definida pela CBF, aliada da Globo? Os inconformados devem recorrer a quem? Á FIFA?

Ricardo Teixeira, presidente da CBF, dando entrevista exclusiva para a Rede Globo, durante a Copa do Mundo de 2010

Ricardo Teixeira, presidente da CBF, bem à vontade com seu amigo André Sanchez, presidente do Corínthians

Acho que estamos na iminência da criação de uma espécie de intocáveis, que tudo pode no futebol brasileiro. E tudo com as bençãos daqueles que deveriam zelar pelo esporte. Mas tudo não passa de divagação por enquanto. Por enquanto!